quarta-feira, outubro 11, 2006

5 minutos

3:21

Moça decidida.
Olhou, viu o que queria e fez.
- Vim, vi e venci - suas únicas palavras. Petulante.
Não houve esforço, nem resistência. Nós já sabiamos o que era pra ser feito. Só era necessário um dos dois ceder primeiro.
Eramos acostumados a inflexibilidade. Sua postura denunciava isso. Sempre segura de si, sempre dona da situação, mesmo sabendo que poderia sair do seu controle a qualquer momento, porque eu também estava no controle. Se minha postura não fosse previsívil, ela ficaria muito mal. Decidi ser bonzinho naquele momento. Fiquei estático. Apenas sorri.


3:20

Já tinha chegado onde queria. Estava em minha frente.
Não falou nada.
Estava fixa em meus olhos.
Olhar penetrante. Alcançava a minha alma, me incomodava profundamente. A única saída era desviar o olhar. Mas, claro que não faria isso. Seria a minha afirmativa de vassalo. Ficamos alí, como se o tempo não passasse, esperando o primeiro erro do adversário.


3:19

Continuava andando em minha direção.
A cada passo, seu corpo inclinavava levemente para o lado contrário. Andava como uma modelo. Aquilo me fez ficar nervoso por alguns segundos. "Seria ela uma modelo? seria famosa?". Deve ser modelo, mas não famosa. Nunca a vi em nenhuma revista badalada. Vogue Homem, Man's Health, Caras...nenhuma tirinha, nenhuma foto, nada. E daí? Eu que fantasiei que a morena era uma madelo de renome. Mesmo que não fosse, tinha uma beleza incostestável e não perderia espaço para nenhuma das übermodels. A moça chegava cada vez mais perto. Sorrindo. Tentando me deixar nervoso, sem sucesso, claro.


3:17

A festa estava maravilhosa. Poucos convidados. Só V.I.Ps. Decoração elegante e sóbria, como era de costume das festas do Marcos. Mas, isso era só no início. Quando os convidados chatos iam embora, nós tomavamos conta de tudo.
Depois das 2 da manhã, as pessoas insandecidas de tanto uisque, faziam as maiores loucuras, não se importanto com nada...a droga rolava solta, tudo era permitido. Mas, no meio da desordem total, havia uma luz. Uma mulher que nunca tinha visto nas festas do Marcos.
Parecia que ela estava me olhando a um bom tempo, sua feição contemplativa estava obvia.
De longe, ela sorrio, jogou o cabelo pra trás - "Eu quero sexo, agora" - falou exagerando na gesticulação labial pra que a entendensse perfeitamente.
Eu também sorri, um sorriso nervoso...esperava todas as frases, menos essa...mas, manti a pose. - "Então venha".
- "Quem deve se deslocar aqui é você." - falou agora com um leve sorriso nos lábios. Ela dava ordens sorrindo. Assim a obediência era resultado claro. Poderia ser assim com outros homens, comigo não.
Ficamos assim, nos entreolhando por alguns segundos. Esperando o primeiro passo, o primeiro vascilo.
Ela deu o primeiro passo. Venci.

quarta-feira, outubro 04, 2006

ilusão

Estavamos aos beijos descontrolados, bem enfrente a porta de sua casa; ela estava louca, mordendo meu rosto e procurando freneticamente a chave dentro da sua bolsa, queria abrir logo a porta...ela estava mais excitada do que eu.
Ela era muito sensível ao toque, a mordida...eu adoro morder...
Mordia sua boca...fazia força entre o limite da dor e o prazer; seus bjos eram loucos, rápidos...ela também mordia a minha língua...com toda a sua força...doeu, mas s eu o dissesse cortaria todo o clima.
"Esquece a chave" - foi o que disse enquanto tentava tirar a mão dela dentro da bolsa e por sobre o meu sexo; eu ainda estava vestido, estava com uma bermuda folgada...foi fácil deixar o falo a mostra.
"Menino" - tentou falar a moça enquanto me beijava; "estamos na rua" - mais uma mordida; "vai que alguém passa" - mordida no pescoço; "e vê?".
Nesse momento parei, olhei pra ela e sorri "sempre quis ser observado" - falei; ela também sorrio; me deu outro beijo de tirar a alma...uma loucura; ela estava de saia...muito curta... foi pro encontro já na intensão da transa, tenho certeza; tinha um jeitinho de santinha em público, mas aquele olhar dissimulado nunca me enganou, era a rainha do sexo...só isso que sabia fazer e parecia ser a melhor...do jeito que se esfregava em mim, parecia ser a melhor mesmo; de subto, ela virou de costa e começou a rebolar ainda mais...já tava perdendo os sentidos...não queria saber mais de nada...não estava me importando se alguém passasse naquela rua, mesmo assim, o risco era claro, estava doido...tinha que penetrar...agora...já...

"Vai Jorginho, bota com carinho, vai..."

Aquela frase me fez gelar...

Ela falou do mesmo jeito que Jackeline o fazia.

Me lembrei imediatamente da minha namorada, dos momentos felizes, das nossas brigas, do dia em que ela prometeu nunca mais me trair, do seu sorriso simples.
Essa seria a vingança perfeita...na frente da sua antiga casa, onde ainda viviam seus pais e sua irmã.
Sua irmã...que não dava a mínima pro sentimentos e pro amor fraterno.
Aliás, Sandra também queria vingança: durante toda sua vida Jackeline roubou seus amores, suas paquerinhas de colégio...a maioria dos homens que a interessava. Essa seria a grande cartada, o grande ato de uma irmã ressentida durante boa parte dos seus 18 anos.
Dois vingativos procurando justiça. Mas, desde quando vingança é justiça? apenas nas mentes mais doentias.

"Jorginho, vai...estou toda molhadinha..."

Achei tudo aquilo horrível, não tinha mais a intensão de machucar a Jack...
Empurrei Sandrinha e saí correndo...não sabia o que fazer, o que falar...só queria dizer a minha mulher que a amo...com todas as letras. Enquanto eu corria, tentava ajeitar a minha roupa, ainda estava excitado, mas minha mente, meu corpo e minha alma são de apenas uma mulher; estava correndo, mas não sabia pra onde ir...liguei na mesmo hora para o celular da Jack...queria dizer q a amo, contar tudo o que aconteceu e ela me perdoar...como um dia eu fiz com ela; não teriamos mais culpa...os dois erraram, houve o perdão mútuo...poderiamos viver sem fantasmas agora...

O celular estava ca caixa.

Instintivamnte, segui para o apartamento de Jack, ainda correndo. Sei que ela não estará lá, mais ficarei esperando...será uma surpresa; Meus Deus como eu a amo...no caminho da sua casa, passei por sua faculdade, sorridente, olhando no pátio pra ver se a encontrava. Não a procurarei...a alegria será maior em sua casa...quando nos encontrarmos.


Passando por uma das lanchonetes que rodeiam a faculdade, vi uma cena que me fez gelar: minha Jack aos beijos com um cara...

"Não é possível" - baixinho comigo mesmo.
"Jackeline...JACKELINE" - estava eu, aos berros.


"Jackeline..." - baixinho comigo mesmo. Ela já tinha olhado para trás. Falei baixinho sem acreditar no que estava vendo. Meu choro tabém foi baixo...apenas desceu uma lágrima.
Não conseguia raciocinar...todas as idéias estavam embaralhadas em minha cabeça...

Lembrei novamente da minha namorada, dos momentos felizes, das nossas brigas, do momento em que ela me prometeu que nunca mais me trairia, do seu sorriso simples.

Essa mulher nunca existiu...eu a criei.

"Não me toque" - falei baixinho. Estava com tanta raiva, que a própria raiva estava num grau elevado. Não...não sentia raiva. Sentia dor. Por isso que falei baixinho...cada vez que eu olhava pro seu rosto, doia mais...estava com o peso do mundo em minhas costas, não queria fazer mais nada. Finalmente, o tempo parou.

Lembrei finalmente da minha namorada, dos momentos felizes, das nossas brigas, do dia que ela me prometeu que nunca mais me trairia, do seu sorriso simples e disse adeus. Não...não cometi suicídio, mas uma parte de mim estará morta para sempre.


Jackeline, eu te amo.



Jorge, 23 anos.

terça-feira, setembro 26, 2006

Heterossexual metropolitano.

A partida de futebol tinha acabado.
Já tinha passado meia hora que estavam alí, sobre uma sombra na lateral do campo.
Falaram de suas jogadas espetaculares, dos gols perdidos, de como o goleiro era burro. Falaram até da Bia, a namorada do goleiro burro, que era mesmo um burro goleiro pois nunca percebeu o "mole" que ela dava pro Tcheco. Prontamente os outros dois afirmaram com a cabeça que ela dava mole para eles também - era mentira, claro. Mas nenhum deles queria ficar por baixo de Tcheco - com olhares provocantes e risinhos que surgiam do nada. O riso era um convite, mas ninguém teria coragem de trair a confiança do burro goleiro, que fora das quatro linhas do campo se chamava Bira.
Começaram, do nada, a falar do Beckham, das suas jogadas limitadas e do seu fraco futebol, que fazia forte contraponto ao seu sucesso no showbizz.
Era ele quem mandava no mundo dos jogadores de futebol. Era verdade que ganhava menos dinheiro que o Ronaldinho Gaucho, mas tinha mais estilo, classe na hora de tocar a bola, de fazer os lançamentos, de se vestir...
"Metrossexual...é assim que a galera chama ele"
"Veio, tu naum sabe...teve uma entrevista que ele disse que usava a calcinha da mulher"
"Ahhh...até vc, fio?"

O outro concordando com a discordância fez uma careta...também não acreditava na notícia.
"É man, foi o que li na revista, mas se é verdade..."

"Veio, o cara se arruma até pra entra em campo...cabelo com gel...viagem total..."
Os outros dois sorriram...pensaram, por alguns segundos como seriam eles, em um time profissional entrando todos com um estilo diferente...algo que chamasse atenção mas tivesse classe.

"É broder...de fud*r"

"Mudando a coversa de pau pra cacete, vocês viram as bermudas do Herchcovitch...muito bala"

"Pô...ele é o cara...faz cada coisa loka..."

É, o Herchcovith era um hit entre os três.
Tcheco gostava mais pela variação de cores das peças. Luiz curtia a forma inovadora do desenho das roupas. Chico usava porque era moda.


"Tcheco, essa sobrancelha tá igual a de tia, man."

Todos riram.

"Vai se lenhar, rapá! você tem inveja de mim"

Mais risos.

Essa brincadeira era costumeira entre os três. Qualquer defeito facilmente perceptível no visual de um deles era apontado e achincalhado pelo outro. Uma brincadeira que nas entrelinhas era uma forma de mante-los na linha quanto a forma que estão se vestindo e regularizar suas atitudes.

"Veio, tu não sabe..."
"Lá vem ele com estórias de novo"
"Ki nada. Se liga, eu tava lendo numa revista que te um salão em Sampa que tira a barba com cera quente...que viagem"
"Chico, para que tá feio...tu não cansa de mentir não?" - Tcheco fala com sorriso nos lábios.
"Não man, isso é verdade...aliás, dessa vez é verdade" - Disse Luiz também sorrindo.
"Eu também li algo sobre isso" - reiterou Luiz.
"Cera quente? deve doer muito" - Tcheco fala com uma voz baixa alisando o seu rosto totalmente liso.

"Falando em cosmético..." - Tcheco
"Ui...que palavra bonita...ensina a eu a falar assim, tio?" - Fala Chico aos risos.
"Lançaram um creme masculino, pra pele, que hidrata e possui feromônio" - Tcheco
"Man, prefiro o creme que tem lá em casa mesmo. E quanto ao feromônio, não preciso ajuda de um cremezinho não. Eu me garanto" - Chico



Nesse mesmo momento vinha de longe Augusto. Um colega deles, que pegaria carona com Tcheco. Iriam todos no mesmo carro voltar pra casa. Iriam amargurando a derrota, os gols perdidos, a inabilidade com Bia. Mas, no fundo, eles nem ligavam. Só queriam estar juntos mesmo.


"E aí, meninas? falando de qual marca de creme hoje?" - Augusto
"Mané creme, fio...a gente tava falando da gostosa da Bia...Jesus" - Chico


"Ei, não toca" - Tcheco fala pra Augusto.

"Não se pode tocar no cabelo de vocês três..." - Augusto

"É, no meu cabelo e nem na minha irmã" - Luiz
"Broder, pelo amor de Deus, não me diz que a ordem é essa mesmo...tipo, sua irmã eu já peguei" - Chico

Agora Gargalhada geral.


"vumbora galera...entrem logo no carro..." - Tcheco



E se vão os três amigos de volta para suas casas.





Observador, atemporal.

quarta-feira, setembro 13, 2006

Cansei de ser eu

Assisti Missão Impossível 3.
Grande filme.
Ele prendeu minha atenção de uma forma grandiosa. Tinha horas que minha respiração acompanhava a trilha sonora, a velocidade da cena, a variação dos cenários. Houve momentos que me senti dentro de tudo aquilo.
De fato, foi um dos melhores trillers de ação que já assisti e não digo isso pela produção bem feita, pela atuação concentrada e perfeccionista do Cruise ou participação brilhante do vilão, que o cinismo impressionava, me fazendo lembrar dos políticos da minha terra. Obedeço apenas meu medidor oficial de qualidade cinematográfica: o impácto que o filme causa em mim.
Parece simples, mas não é.
São poucos os longas que me emocionam. Na maioria das vezes, sou um espectador indiferente e atento a qualquer detalhe ou possível erro que o diretor deixou escapar. Mas, MI3...me envolveu.
Uma grande verdade assumo agora: poucos me envolvem.
O ultimo que tenho lembrança foi Old Boy. Genial. Não pelo seu roteiro ( que é muito bom, por sinal) mas, pela capacidade do diretor (Park Chanwook) retratar da forma mais visceral possível alguns momentos. Tudo aquilo parece que vai explodir de tão intenso e você tem a perfeita impressão de que é real. É carne viva aquele filme. Me tocou profundamente.
Depois que acabou, fiquei uns 10 segundos paralisado...ainda assimilando a overdose de sentimentos que tinha presenciado...sim...presenciado; não era mais passivo a tudo aquilo. Tinha me envolvido. E isso, poucos filmes me proporcionam.
Posso citar também Jogos Mortais.
Nesse caso, o brilho fica para o roteiro, no qual me conquistou aos poucos.
Fiquei tão envolvido que tive raiva do vilão. Imagina...raiva de um personagem.
Outra produção que me impressionou foi Colateral. Um debate sobre o existencialismo humano travado entre um assassino e um taxista, tendo como pano de fundo assassinatos em série. A todo momento, o filme põe em cheque a importância da vida humana, quanto ela vale de fato e se nós a valorizamos realmente como deveriamos (ou se apenas dizemos poética/demagogicamente como é linda e maravilhosa a vida e sua continuidade, sendo sempre contra a mortandade nas guerras ou chacinas; discurso que mascara a nossa indiferença e inercia para combater essas ações abomináveis).
Mais uma vez, o Tom Cruise tava na área. E o carinha não estava sozinho. Tinha ao seu lado Jamie Foxx, outro grande ator.
Para filmes assim, dou o braço a torcer.
De um jeito que não notamos, nos faz embarcar no mundo de fantasia.
Isso é mágico.
Acabamos esquecendo os problemas.

Nos faz imaginar como seria diferente a nossa vida se...
se...
se fossemos mais corajosos, vivos, equilibrados, desequilibrados, leves, irritantes...

Esse "se" é que me mata...

Esse "se", na verdade, são milhares de novas possibilidades que surgem de mudar meu destino a cada vez que assisto um novo filme.





Roberval, 19 anos

quarta-feira, setembro 06, 2006

Mascaras

Sensualidade
É a única palavra que define essa mulher. Seus gestos, o olhar...um conjunto de sinais que nem parecem inatos de tão perfeitos.
O que mais impressiona é a sua voz...parece mais um gemido. Não é possível que essa mulher exista. Mas, ela está aqui, na minha frente, falando sobre...sobre...nem me lembro. Eu só concordava. Emitia um ruido que parecia um "uhum" a cada vez que ela terminava uma frase.
Esforço sobrenatural eu fazia para não ficar encarando seus seios...os mais lindos que eu tinha visto.
"Eu falo demais, né?"
Quase escapa um "uhum"... meu anjo da guarda me salvou dessa.
Ela nem falava muito. Eu que estava meio desinteressado na conversa. Não que ela fosse chata mas, enquanto ela falava baixinho comigo, seu corpo gritava.
"Não."
"Então me diz, o que você acha?"
Meu Deus...achar o que? não sabia do que ela falava, como vou emitir uma opinião? Se eu pedir pra repetir, a garota vai se achar realmente chata, se eu responder qualquer coisa, sairei como um burro. Lenhou tudo...
"Concordo com você. Ronaldinho Gaucho não joga nada na seleção"
Ela riu. Socou de leve o meu ombro e me chamou de palhaço. Como recompensa da minha boa ação, ela sorriu. Jesus...eu já achava sua boca espetacular, imagina o sorriso...
"Agora eu caso" - pensei.
"Com Ronaldinho Gaucho?" - respondeu de "bate-pronto".
Ela já estava as gargalhdas com o trocadilho que fizera e eu no sorriso amarelo. Mais uma vez pensei em voz alta e mais uma vez estava sem graça. Me esforcei pra não demonstrar. Então dei uma caprichada na riso amarelo.
"Não precisa forçar a risada não. Sei que sou meio sem graça..." - a menina retruca.
O moça difícil...não dava preu fazer tipinho. Ela sacava logo.
Não te contei, leitor, mas antes da minha fase "uhum", a todo custo, tentava parecer inteligente e com um ar meio desinteressado (quando a mulher é muito bonita, é melhor ficar neutro e jogar o charme bem devagar...bem de leve; se "chegar, chegando" não leva nada, se parecer "apaixonadão" seria mais um na fila. Então optei pelo personagem "inteligente desinteressado").
Depois da minha infeliz risada forçada, se estabeleu um silêncio. Ela tinha desistido de puxar conversa e eu não sabia mais que postura assumir.
"Quer saber? vou ser eu mesmo...pelo menos ela vai dar uns sorrisos e me apresentar pra umas amigas gostosas..." - Pensei comigo.
"O que?" - A moça pergunta. Eitcha...agora lenhou tudo...a moça ouvio a frase...falei em voz alta de novo...não tem piadinha de Ronaldinho Gaucho que dê jeito.
Na hora fiquei branco, azul, amarelo, transparente...todo sem graça.
"Fala logo. Repete..." - No momento que fui tentar explicar, a garota interrompe - "Diz logo...você perguntou pra mim "quer saber". Eu quero saber. É o que?

Jesus...ela só ouviu parte da frase...ou pelo menos eu só falei parte da frase em voz alta. Estava salvo...meu anjo da guarda mais uma vez não me deixou na mão. Vou fazer um pratinho de macumba pra ele...não, não...macumba é pra santo de terreiro...vou acender uma velinha pro meu anjo...o coitado deve tá cansado agora.



"Sorria de novo"
"O que?"
"Isso mesmo que você ouviu...sorria de novo"
Ela ficou sem jeito com a frase. A mulher mais confiante do mundo, a mais inteligente, a mais linda, a mais metida, ficou corada com um pedido. Ela acabou sorrindo de tão sem graça que estava. "Obrigado por ter me mostrado as estrelas" - falei pausadamente e olhando em seus olhos.
Agora, ela sorriu de verdade. De felicidade.
Já não estava mais tão interessado em seu corpo. Me deu uma vontade tão grande de beijar a menina tímida que surgiu dentro daquela mulher. O emocional superou o carnal mais uma vez.
A conversa fluiu novamente. Eu não fiz mais nenhum tipo. Ela se desarmou completamente (é...durante a conversa, ela tava dando uma de "gostosona"...também tinha criado a sua máscara) e começou a contar sobre seus medos, curiosidades, sonhos, desejos...tudo. Acabei tendo uma noite muito feliz. Acabei também acordando com o raiar daquele, que era um dos mais lindos sorrisos.


Aurélio, 22 anos.