quinta-feira, novembro 16, 2006

Irresponsáveis palavras mudando destinos - o todo (quarta parte)

Não ouvia mais nada.

Estava com tanta raiva de tudo que fiquei surda.

Queria sumir naquela hora. Tudo sempre dava errado pra mim...sempre dá errado.

Aquele bilhete...


Meu desejo...


Mas...naum sei...

Meus pensamentos todos embaralhados, não conseguia raciocinar...

Apenas pensava na minha falta de amor.


Porque isso acontecia comigo?

Sou bonita, inteligente, agradável...

Mas, porque ninguém se apaixona por mim? O que tenho de errado?

Existem uns carinhas que gostam de mim, mas...eles se interessam apenas pela minha carinha de anjo...nunca quiseram me conhecer realmente. Nunca...nunca...

Será que a culpa é minha mesmo?

Os homens que não sabem valorizar a verdadeira mulher...uma que tenha opinião, independente...de atitude...

Atitude...(riso maroto- irônico) sempre amei o professor e nunca tinha dito uma única palavra.
Me apaixonei também pelo Danilo...mas, ele me odeia...naum sei porque. Nunca fiz mal a ele...

Engraçado, ele veio me procurar...estava chorando...ou está...naum sei...mergulhei em meus pensamentos.


Do que vale a vida sem amor?
Não amo ninguém...ninguém me faz amar.

Todos me querem, mas ninguém me ama. Mas, como eu sei? não conheci todos os amores. E nem é possível conhecer. Não é possível achar em milhões alguém que goste de mim. Poderia ter me contentado com os caras mais legais que tive. Não sentiam nada forte por mim, mas me queriam por perto. Poderia ter nascido algo de verdadeiro.


O vento está mais forte...

É uma dor profunda a de não ser amada. Acordar todos os dias e ninguém olhar em meus olhos...
Nunca dei espaço para ninguém...sempre fui aspera...meio metida... para, aquele que suportasse meus caprichos fosse o cara certo.

Ria comigo mesmo... a "independente" esperando o príncipe encantado. Engraçado.

Tudo tão trágico, mas ainda conseguia sorrir.

Eu não quero mais viver assim...não mereço viver assim.



Agora abro os braços...o vento fica ainda mais forte.



Pior que isso não existe. Estou vivendo meu próprio inferno.
Acordando todas as manhãs chorando. Vivendo minha vida esperando que pudesse ser feliz. Vivendo minhas ilusões com toda a vontade...rezando para que a realidade não me pegasse desprevinida...naum quero mais saber...não quero mais chorar...não quero mais procurar o amor. Minha caçada acaba aqui. Não quero mais. Nunca mais. Nunca...

Mas, aquele bilhete era meu desejo...era só meu...não o escrevi, mas queria ter escrito...

O Arnaldinho zombou do meu amor. O Danilo nunca o quis.

Não quero mais tentar amar... nasci somente para amar?


Meu corpo inclina para trás...

Pensamentos todos embaralhados...quero gritar...quero que todos ouçam...quero que a cidade barulhenta pare ao som da minha voz...

Mas, como posso eu minimizar tanto o valor da minha vida na procura da paixão? há outros interesses...
Por mais que feche os olhos, essa dor não me larga...a dor de estar sozinha.

Como eu queria ser insensível...

Como eu queria continuar a minha vida como nada tivesse acontecido.

Desistir da minha vida? Porque? nada disso vale.


Volto a ouvir os gritos...


É...nada disso vale...


Escolherei viver...enfrentarei tudo sozinha...

Minha dor não passará. Tenho certeza.

Então, fiz a escolha certa...

O vento bate cada vez mais forte...vejo agora o chão bem mais próximo do meu rosto.
Espero que a dor da queda não me faça sofrer muito antes da minha morte.

Tomara que a morte faça calar os gritos do desamor dentro de mim.

Tomara que exista a reencarnação...na próxima vida terei uma chance de não viver sozinha.


Tomara que depois da morte exista amor...


Tomara.







Rita, 18 anos.

quinta-feira, novembro 02, 2006

Irresponsáveis palavras destruindo corações e mentes - três (3/4) quartos.

Oxe...

Ki viagem...o professor da espaço pra menina falar e ela fica aí...calada olhado pra ele. Deve ser mais uma daquelas que se apaixona pelo mentor, coitadinha.
Os professores seguem o mesmo roteiro de sempre: Seduz, induz, vai de carro ou de buzz, no final a mina grita "Jesus, Jesus". É...o trocadilho é horrível.
- "Sim, Cabeção, me diz: e se for o contrário? O homem na "noia" de achar a mulher ideal, acaba menosprezando a que está do seu lado, que no final, é seu grande amor. Vai ficar chorando?"
Cabeça olhou pra mim e sorrio. Era essa pergunta que ele queria. Começou a discursar, fazer caras e bocas, apontar pro teto da sala...o show que todo professor que se acha dono da verdade faz.
- "Viadagem da porra essa aula". Falei baixo, mas aquela frasezinha que é baixo o bastante pro professor não ouvir e alto o bastante pra a sala toda dar risada.
Enquanto todos riam, voltei meu olhar a Rita. Tava com uma cara meio assustada, olhando para todos os lados tentando perceber alguém que a estava sacando. Era mesmo linda. Me percebeu. Retribuiu meu olhar com uma cara agressiva, afinal a interrompi. Sempre faço isso. Patizinha fesca. Mas, dessa vez, eu a salvei dela mesma. Será que ela é inteligente demais pra perceber? Não...o V3 DG ainda não veio com o assessório cérebro. Mandei um beijo pra ela e dei uma piscadinha. Éramos quase que inimigos. Nada pessoal, só gosto de provocar as pessoas. Ver elas nervosas quando não possuem mais argumentos. E quando se tem uma menininha mimada como "oponente" é mais divertido, porque ta acostumada a nunca ser contrariada. Seu descontrole é normal.
A garota me xingou do outro lado da sala. Um daqueles palavrões que de vez em quando a mulher fala, mas quando ouve fica horrorizada. É... ela é inteligente afinal, falou em um volume que toda sala ouviu, menos o professor. Também, Cabeça tava tão concentrado em seu discurso que nem ouve mais nada.
Cabeção... apelido das antigas do Arnaldo. Do tempo de moleque. Éramos vizinhos. Não haviam pessoas de minha idade lá no prédio, então acabei andando com a galera dele. Fui admitido rápido. Sempre fui ousado e era o engraçadinho da turma. Aí foi fácil. Os caras, quando não tinham nada pra fazer gostavam de me ouvir. E era estranho, tipo, eu era o mais novo... mas, também ficava na minha, não era desses caras abestalhados não.
Da galera, o cabeça era o que mais estudava. Viajava na onda mesmo. Queria ser dentista. Está cursando não sei qual semestre de odonto. Mesmo sendo broder e tal, é uma sensação estranha ser seu aluno. Tipo, eu sinto como se tivesse parado no tempo, sei lá. Mas, esses pensamentos não demoram muito na minha cabeça. Tem a festa da sexta (só alunos do cursinho) que é mais importante. Porra. Agora que eu fiz o link. Será que ele ta jogando esse papo de todos serem possíveis amantes pra ver se as minas dão mais mole na festa? Cabeça é um pilantra mesmo. Não vai mudar nunca.
Opa...mandaram um bilhetinho pro Arnaldo. Que viagem...as pessoas não tem coragem de perguntar pessoalmente e mandam o bilhetinho. Ele ia pondo o papelzinho dobrado discretamente no bolso, mas a galera se manifestou na hora gritando. Ele próprio instituiu a norma de que todos os bilhetes mandados seriam lidos.

-"Cala a boca... quero ouvir." - falei pro povo atrás de mim que não parava de conversar. Eles tavam com um sorriso nos lábios meio estranho, mas esses caras dão risada de tudo. Deve ser mais uma besteira.

- "Fala logo, Arnaldo" - gritou outro. Deu pra sentir que o bilhete não era uma pergunta. Deveria ser uma piada ou uma cantada qualquer. Na boa, eu queria viajar o Brasil todo pra saber se em todo lugar é assim mesmo ou se o foco é só aki em Salvador. O povo só pensa em sexo. Deus é mais.

(Quem vê até acredita que eu me incomodo. Eu quero é mais!)

- "Vou falar." - Cabeça curtindo com a galera. Dando mais um tempo pro povo ficar na expectativa. Acho que todos já esqueceram que estão em sala de aula.

- "É uma cartinha muito carinhosa...pronto, pronto...vou falar..." - se prepara o Cabeça - "ouvindo tudo o que você falou professor, me deu uma grande coragem. "Apenas faça"...essa é a sua frase, não é? Então eu farei. Uma atitude que era para ser tomada a muito tempo atrás e só agora eu faço. Quero você, Arnaldinho. Se não pode ser agora, pelo menos, me dê um beijo. Quero que seja aí no tablado, para que todos vejam a força do nosso amor. Rita."

A sala toda deu um gritinho...todos queriam ver o beijo. Os caras atrás de mim tavam chorando de rir. Algumas pessoas surpresas, outras ainda procuravam quem era Rita. Ela estava lá...paralisada...sem saber o que fazer...na certa se arrependeu do que tinha ocorrido. Eu continuava olhando pra ela não acreditando no que tinha feito. Ela ainda paralisada, com um sorriso congelado de nervoso.

-"Pode vir, Ritinha, eu não mordo não. Você quer um beijinho, né... será com carinho." - Arnaldo mostrando seu lado verdadeiro. Sendo o cafajeste de sempre. Fazendo a menina passar vergonha naquele circo. Agora o povo já gritava o velho coro "Beija, beija..."
-"Pode vir..." - Depois dessa frase, os caras atrás de mim começaram a gargalhar. A sala estava aos gritos. Quem não ria, estava gritando o "Beija, beija..."

Rita, ainda muda, começou a chorar... não sabia o que fazer. Eu também não. Não achava graça, só sentia pena... dava pra sacar que ela era afim do Arnaldo...


-"Foi você, não foi?" - ela falou baixinho olhando pra mim...
- "Foi você, não foi?" - em um tom mais moderado... já se levantando da cadeira. Eu ri de nervoso... nunca tinha visto a mina daquele jeito.

Agora ela corre, se esbarra entre as cadeiras da sala... estava com a cabeça baixa, não queria demonstrar que tava chorando, mas era inútil. Saiu da sala chamando atenção pela zoada e pelos soluços.

"É meu efeito Axe" - Cabeça na sua cartada final... todos gargalharam...menos eu. Que filho da puta!
Acabei saindo da sala pra ver onde estava Rita. Procurei nas salas, não achei...entrei no banheiro masculino, feminino...nada...

Fui pro ultimo andar... lá tem espaço de descanso para os alunos...ela podia estar lá chorando, coitada. Subi rápido as escadas.


- "Foi você, não foi?" - era Rita, de frente pra mim... em pé sobre o para-peito...são 6 andares..se ela cair...Jesus...

- "Rita, pelo amor d Deus...desce..." - Engoli seco.

-"Foi você...assuma" - gritou. Estava desesperada... não sabia mais o que fazer...

Senti raiva do Cabeça, de todas as brincadeiras, da forma que eu a tratava...de tudo...de todos...


-"Rita, desce..." - falei quase chorando.




Continua...





Danilo, 22 anos.